quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Vá com honra, camarada!





Por Cristiano Alves 

Nos últimos dias de 2011 despediu-se de seu povo Kim Jong Il, filho do famoso revolucionário Kim Il Sung, Presidente da Comissão de Defesa Nacional e Secretário do Partido dos Trabalhadores da Coréia.

Kim Jong Il liderou a Coréia em tempos difíceis, em que o país perdeu o apoio do antes existente "Bloco Socialista" e se viu à mercê de uma invasão pelo USMC1. A fim de impedir a invasão e o genocídio do povo coreano no que seria uma "nova Guerra do Vietnã", a Coréia Democrática decidiu construir armas nucleares e empreender testes de mísseis capazes de atingir os Estados Unidos. Essa medida, que abdicou do conforto do povo coreano, conforme bem colocado pelo porta-voz do governo coreano Alejandro Cao de Benós, foi um "seguro de vida do povo coreano", que impediu que uma nova chacina ocorresse naquele país. O preço pago por isso, entratanto, não foi pequeno. Nos anos 90 a penínsual coreana sofreu uma série de chuvas torrenciais e furacões que atingiram as duas Coréias, especialmente a setentrional, que tem menos de 25% de seu território cultivável, sendo formado em sua maior parte por montanhas, o que provocou enchentes e a fome no país, tornando o país dependente da ajuda humanitária. Ainda, o país sofreu pressão internacional e sanções econômicas dos Estados Unidos, agravando o estado econômico do país, prejudicando a sua economia e contribuindo para crises energéticas no país. O país americano também listou a Coréia do Norte no chamado "Eixo do Mal" e em não mais de uma oportunidade classificou-o como "Estado terrorista".


Apesar da imensa pressão exercida pelo mais poderoso país do globo, o sistema coreano, liderado por Kim Jong, não se dobrou a Washington, recuperando em parte a sua prosperidade na década de 2000 e mesmo voltando a se destacar em áreas enfraquecidas durante os anos 90, chegando a colocar uma seleção de futebol para competir na África do Sul em 2010.

A pressão coreanófoba e anticomunista não partiu apenas de governos nacionais, mas também de conglomerados da grande imprensa. No Brasil, a Rede Globo de Televisão não perdeu a oportunidade para atacar a Coréia Democrática mesmo nos momentos supostamente amistosos e de descontração como durante a Copa do Mundo, quando, conforme denunciado por "A Página Vermelha", a Globo, FSP e Editora Abril tentaram de todas as formas mostrar que os jogos da Coréia do Norte "estavam proibidos na Coréia por lei imposta pelo próprio Kim Jong", tentando passar a idéia de que se tratava na verdade de um "King John". Curiosamente, a tal "lei coreana" jamais foi exibida, aliás, a única coisa exibida foram os jogos da seleção coreana, mesmo com a derrota, o que contraria a versão midiática de que "a Coréia Popular até mostraria os jogos, mas somente os que o país vencesse". Não menos cínica é a forma como os jornais direitistas se referem ao chefe de Estado coreano, referindo-se sempre ao seu governo como o "regime de Kim Jong", atribuindo a ele um caráter pessoal, como se fose uma "bodega". Curiosamente, nunca se fala do "regime de Obama", do "regime de Bush", "regime de Gordon Brown" ou de Tony Blair, ou do "regime de Berlusconi". De fato, há que se reconhecer que realmente existia um "regime de Kim Jong", a julgar pelo fato de que este se preocupava com a saúde durante sua dieta. Há que ser lembrado que no Jornal Nacional, edição desta quarta-feira(28) de dezembro de 2011, os apresentadores do jornal, teleguiados por seu diretor, fizeram questão de contestar a "sinceridade dos prantos durante a despedida de Kim". Curiosamente, nunca se questiona a sinceridade dos prantos pela morte de nomes como Amy Winehouse, que levava uma vida cheia de vícios sem qualquer exemplo positivo para a juventude. Nunca foi questionada a "sinceridade dos prantos" pelo falecimento de nomes como Pinochet, Ronald Reagan, Borís Yeltsin ou outros nomes queridos da imprensa burguesa. E o que é pior, pisoteando qualquer senso de ética, o Jornal da Globo, encabeçado por um agente de Washington já denunciado pelo sítio Wikileaks, William Wack, que atua sem qualquer repreensão da ABIN, anunciou que "o regime coreano tem cheiro de naftalina".

O grande legado de Kim Jong, além de garantido a sobrevivência do modelo adotado por seu país sob a doutrina Juche e, principalmente, a doutrina Songun, criada para situações extraordinárias que põem em risco a segurança nacional do país, foi sem dúvidas ter impedido que seu povo fosse chacinado e fuzilado por projéteis de urânio empobrecido e bombas nefastas de napalm, fósforo branco e agente laranja, destino conferido a milhões de irmãos asiáticos na Guerra do Vietnã. Não há limites para a sanha assassina do imperialismo, ideologia e prática reacionária e genocida, não é nenhum exagero alegar que pudessem criar 50 mil "Vietnãs", eles o fariam sem dó nem piedade em nome do lucro e do luxo dos magnatas do setor armamentista e bancário. Por essas razões, aqueles que não se deixam iludir por mentiras, a despeito de toda calúnia e difamação, como já dizia uma velha canção norte-coreana, "o seguirá sempre".

Vá com honra, camarada!



1- USMC: Corpo de Fuzileiros dos Estados Unidos, principal força de elite dos Estados Unidos da América, utilizada para atacar outros países de modo ultramarino. São transportados em navios da Marinha Americana(US Navy), em porta-aviões com as mais avançadas tecnologias e por enormes helicópteros. Foi responsável pela devastação do Vietnã e do Iraque em duas oportunidades, utiliza alguns dos mais modernos equipamentos militares do planeta, inclusive acessórios robóticos que facilitam o transporte de equipamentos individuais, e tem o seu efetivo numérico superior ao do Exército Brasileiro.