quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Alguém disse: são lágrimas fingidas?





Por Paulo Vinícius 


Lembro de mim, criança, lá na avenida C do Nova Assunção, em Fortaleza, chorando - e todo mundo nas calçadas - a morte do Tancredo Neves. Lembro do respeito ao choro de ACM pela morte de seu filho. Lembro de Dona Ruth, e nos dois casos, a tentativa malograda de criar uma comoção nacional foi descarada. Aliás, quem se lembra do Bonner chorando no JN a morte do Roberto Marinho? 


Mas coreano, no Norte, não pode chorar. Ainda mais em massa. Afinal, dia após dia, ironizou-se Kim Jong Il por ser denominado de "querido líder". Como poderiam aceitar ser ele de fato querido? E as piadas sobre suas viagens pelo país? Como poderiam aceitar a referência construída pelo líder coreano, que visitava todo canteiro de obra, escolas, conversando com a população que agora lhe pranteia? Como poderiam entender, ridicularizando a roupa e a aparência de Kim Jong Il, que seu "uniforme militar", na verdade era como uma guayabera coreana, um traje exatamente oposto à imponência, sem uma insignia sequer. Um fato meio óbvio, já que os uniformes militares estavam sempre à vista, ao lado dele, mas o nosso jornalismo golpista é de uma pobreza analítica desconcertante, não fosse a má-fé que a move. Como entender que o governante alcunhado de esquisito é um dos fenótipos mais comuns de coreanos? Ou seja, como entender a identificação do povo da RPDC com seu líder, sem ter de negar tudo o que dele se disse, com racismo até?

E esse negócio das mulheres militares? Armadas! Aliás, esse tal exército com mais de 5% da população, um exército político e forjado na luta contra o imperialismo? Será que é absurdo pensar na admiração popular pelas suas forças armadas, pela sua capacidade de defender seu país contra o Japão e os EUA, depois de todas as atrocidades por eles cometidas? Será que os coreanos não sabem o que houve no Afeganistão, no Iraque, na Líbia? E, sabendo, por que é tão absurdo entender o engajamento nacional na construção da capacidade defensiva que impede o que houve naqueles países? E por que negar-lhes o orgulho por poderem se defender?

Não. Aos coreanos no Norte não se admite mérito nenhum, muito menos que chorem, porque o choro humaniza. Uma vez, numa viagem internacional, vi um coreano meio derretido, olhando um brinquedo. Quando inquiri, soube que pensava nos filhos, procurava algo pra eles...

São pessoas. Não podemos calar quando vez após outra se justificam guerras mentirosas para matar as pessoas em suas casas, invadindo países, massacrando crianças, mulheres, idosos... Na verdade é disso que se trata. E é para impedir essa empatia com as pessoas, que a imprensa do imperialismo não nos deixa vê-las como seres humanos, e demoniza para isso.

Por isso os coreanos no norte precisam ser pintados à luz da caricatura do imperialismo, enquanto os que vivem no Sul são incensados todo dia pela Míriam Leitão. Ninguém fala das sucessivas ditaduras militares na Coreia do Sul, dos 30 mil soldados ianques em seu território, das ogivas nucleares, do apoio econômico e da blindagem estadunidense como parte do "milagre coreano"...

Quanto ao Norte, não se os retrata como cercados, mas sim "um dos regimes mais fechados do mundo". Tem de ser vistos como miseráveis, e não com aquelas que eles mesmo fazem, marca da elegância coreana que observamos no 16º Festival Mundial da Juventude, em 2005, em Caracas. Também não se fala da beleza de Pionguiangue, uma cidade monumento, nem da maneira como se tratam as crianças naquele país, ou de sua educação.

Não se os reconhece como ameaçados e bombardeados, são tratados como os agressivos... E o seu desabastecimento, em vez de resultado de bloqueio, sanções, catástrofes naturais, seria culpa deles mesmos... Mas o pior de tudo, o mais repugnante é ver, mesmo na esquerda, concessões ao imperialismo que busca legitimar mais uma guerra, mais um genocídio, desta vez, outra vez, contra a RPDC.

E o Partido Comunista do Brasil denuncia isso, não se cala ante a ânsia bushista, que se fortalece graças à propaganda anticomunista descarada e à covardia de parte da esquerda que, liberal, não pode fugir de seus pressupostos.

Che Guevara alertou no passado, que ao imperialismo não devemos conceder um tantinho assim, nada! Que tencionava dizer El Che? Que não devemos, por exemplo, fingir que não é conosco quando o imperialismo joga todo o peso ao açular uma campanha de linchamento midiático contra um país bloqueado, ainda mais depois do que se fez nos últimos anos. Primeiro vem a mídia, depois as sanções, e enfim os bombardeios e o genocídio. Chega!

É nessa hora que o internacionalismo proletário se deve expressar em alto e bom som, como fez o camarada Renato Rabelo em corajoso artigo que ensina uma característica indispensável num Partido Comunista que não se vendeu nem se rende: pensar com a própria cabeça. Não ser pautado pela imprensa sabuja do imperialismo. Não conceder em princípios, como o internacionalismo proletário, a solidariedade internacionalista e a defesa da autodeterminação dos povos. O assombro não é estar o PIG onde sempre esteve. O assombro é ver quem denuncia a imprensa golpista, aceitar sua orientação quanto a democracia e geopolítica, fingindo desconhecer as consequências de uma postura pusilânime.